
quarta-feira, 16 de março de 2011
quinta-feira, 10 de março de 2011
O caminho da Páscoa do Senhor
O que mais nos afasta de Deus é o pecado
A Quaresma, com início na Quarta-feira de Cinzas, é um tempo litúrgico muito importante para a nossa caminhada cristã. Ajuda as pessoas e as comunidades eclesiais a se prepararem dignamente para a celebração da Páscoa do Senhor.
O período quaresmal é tempo sobremaneira apropriado à conversão de vida e à renovação interior. Aliás, não há Quaresma sem conversão. Converter-se é separar-se do mal e voltar-se para o bem. É mudar radicalmente de vida e de critérios. A conversão radical insere-se no coração da vida. Exige gestos concretos de amor e de misericórdia, de partilha fraterna e de justiça. Podemos dizer que o cristão é um convertido em estado de conversão, pois a conversão dura enquanto perdurar nosso peregrinar neste mundo.
Converter-se é procurar viver todos os dias a “vida nova”, da qual Cristo nos revestiu, transformando-nos n'Ele, para fazer um só corpo com Ele e com os irmãos.
Há em nós atitudes que devem morrer. Converter-nos, a cada dia, exige morrer aos poucos, sepultar-nos com Cristo para ressuscitarmos com Ele.
O amor de Deus chama-nos à conversão, a renunciar a tudo o que d'Ele nos afasta. O que mais nos afasta de Deus é o pecado. Pecar é estar no lugar errado, longe da amizade e da graça de Deus.
A conversão quaresmal significa, portanto, crescer na prática das virtudes cristãs. Somos sempre catecúmenos em formação permanente, progredindo no conhecimento e no amor de Cristo.
Ao longo da Quaresma, somos convidados para contemplar o Mistério da Cruz, entrando em comunhão com os sofrimentos de Cristo, tornando-nos semelhantes a Ele na Sua Morte, para alcançarmos a Ressurreição dentre os mortos (cf. Fl 3, 10-11). Isso exige uma transformação profunda pela ação do Espírito Santo, orientando nossa vida segundo a vontade de Deus, libertando-nos de todo egoísmo, superando o instinto de dominação sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo (cf. Bento XVI, Mensagem da Quaresma 2011).
O período quaresmal é ainda tempo favorável para reconhecermos a nossa fragilidade, abeirando-nos do trono da graça, mediante uma purificadora confissão de nossos pecados (cf. Hb 4, 16). Na Igreja “existem a água e as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência” (Santo Ambrósio). Vale a pena derramar essas lágrimas com uma boa confissão sacramental.
Jesus convida à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino de Deus: “Convertei-vos e crede na Boa-Nova” (Mc, 1, 15).
O itinerário quaresmal é um convite à prática de exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna e às obras de caridade (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1438). É igualmente um tempo forte de escuta mais intensa da Palavra de Deus e de oração mais assídua.
Quanto mais fervorosa for a prática dos exercícios quaresmais, tanto maiores e mais abundantes serão os frutos que colheremos e hauriremos do mistério de nossa redenção.
Também a vivência da Campanha da Fraternidade ajuda a fazermos uma boa preparação para a Páscoa. A CNBB propõe para este ano o tema “Fraternidade e a Vida no Planeta”, e como Lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8, 22).
Maria Santíssima, Mãe do Redentor, guie-nos neste itinerário quaresmal, caminho de conversão ao encontro pessoal com Cristo ressuscitado.
Com o coração voltado para Cristo, vencedor da morte e do pecado, vivamos intensamente o período santo e santificador da Quaresma.
Dom Nelson Westrupp, SCJ
Bispo Diocesano de Santo André (SP)
terça-feira, 1 de março de 2011
Não podemos esquecer que somos servos e só existe um Senhor

Imagine que era uma manhã de domingo, Jesus entraria em Jerusalém e escolheu um jeito inusitado para fazer o percurso. Segundo a narrativa evangélica, o Senhor enviou dois dos Seus discípulos a uma determinada aldeia para buscar um jumentinho, pois este seria o transporte utilizado por Ele durante a entrada trinfante na Cidade Santa. Até aí nada de novo, já é bastante conhecido este texto de Mateus 21, 1-10. Porém, se nos aprofundarmos na narrativa, descobriremos, por exemplo, que o dono do jumento, ao questionar os discípulos, com toda a razão, por que estes estavam levando seu animal, sendo que a resposta foi apenas: “O Mestre precisa dele”, e o proprietário do animal simplesmente aceitou. Você teria a mesma atitude?
Estive pensando nas vezes em que Jesus enviou Seus discípulos até mim para pedir algo em Seu nome e eu, sem perceber, acabei por dizer "não".
Já ouvi muitos pregadores falarem a respeito desse trecho do Evangelho e gosto de meditar nas riquezas que ele revela. Fico pensando, por exemplo, quais eram os “sentimentos”, se é que posso dizer assim, daquele privilegiado animal! Acredito que se ele “chegou a pensar” que os mantos estendidos no chão e os ramos de oliveira, agitados entre cantos de alegria e gritos de “Bendito o Rei...”, eram para ele, tenha ficado frustrado e muito decepcionado ao perceber que as homenagens eram todas para o Mestre, que ele simplesmente transportava. Poderá, até mesmo, ter passado o resto da vida reclamando seus direitos, parado na decepção porque ninguém sequer o notou.
Já por outro lado, se o animal “entendeu” sua missão de escolhido para transportar o Rei dos Reis, teve motivos para ser o jumento mais feliz do mundo ao lembrar-se de que, um dia, foi escolhido pelo Senhor para levá-Lo ao Seu povo.
Permita-me a comparação, mas, na verdade, penso que este “jumentinho” somos cada um de nós que constantemente também somos escolhidos para “levar o Senhor” a tantos lugares neste mundo. A pergunta diante disso é: como tenho assumido a missão? Alegro-me por ser meio através do qual o Senhor chega ao povo ou tenho buscado de alguma forma receber Seus aplausos e roubar Sua glória?
Nestes dias, durante uma partilha de vida, recordei-me desta passagem do Evangelho e da forma como ela, certa vez, marcou minha história.
O fato é que há alguns anos, rezei com este texto sagrado e dispus meu coração ao Senhor dizendo que Ele poderia contar comigo, pois a exemplo do “Jumentinho”, eu o levaria aonde Ele quisesse. Eu só não imaginava o que viveria poucos meses depois. Acontece que o Senhor levou minha oração a sério e enviou-me a uma família devido a um relacionamento difícil e conturbado.
Na época, mesmo sabendo que estava sendo um instrumento nas mãos de Deus, não conseguia perceber onde a missão começava ou terminava já que os sentimentos se entrelaçavam com a razão e o contexto causou grande sofrimento. Com a graça de Deus e a ajuda de pessoas queridas, acredito que cumpri a missão e tenho certeza de que superei as dificuldades, mas levou um longo tempo para perceber a obra que Deus realmente havia realizado.
Até que um dia, mais uma vez rezando com essa passagem do Evangelho, senti Deus falando fortemente ao meu coração... Ele fez-me lembrar a oração que eu havia feito e mostrou-me que assim como escolheu o “bendito jumentinho”, para com a ajuda dele, entrar em Jerusalém, havia me escolhido, para por intermédio da minha presença, entrar naquela família que, na época, passava por uma grande perda e precisava da presença do Senhor. Na mesma hora compreendi muita coisa. Foi como se o Senhor retirasse um véu dos meus olhos fazendo-me entender Sua obra e recompensando-me com uma grande paz interior. Hoje, mesmo depois de alguns anos, lembro-me claramente desse fato e cada vez que penso nele, tenho a certeza de que Deus leva a sério nossas orações.
Imagino que talvez você já tenha passado ou esteja passando por uma situação que não compreenda o que realmente está acontecendo. Digo, por experiência: não queira entender tudo de uma vez. Conclusões precipitadas podem nos causar vários danos e o pior deles é impedir a ação de Deus. Viva pela fé. Faça o bem e somente o bem, seja dócil e saiba esperar, com o tempo, se o Senhor quiser, há de lhe revelar a obra que Ele realizou com sua colaboração, abandone-se.
Bem sei que por causa da nossa razão que quer entender tudo e agora, a tarefa do abandono nos custa sacrifício, mas sei também que vale a pena esperar em Deus. Não podemos esquecer que somos servos e só existe um Senhor, Aquele que nos escolheu para Seu Reino.
Depois que o “jumentinho” entrou em Jerusalém levando o Mestre, nunca mais tivemos notícias dele, mas só posso imaginar que sua vida tenha sido transformada pela alegria da missão cumprida.
Hoje pode ser um dia propício para percebermos aonde o Senhor deseja chegar por meio de nós e darmos os passos na direção da “Jerusalém” que Ele nos mostrar. Coragem! A alegria de contemplar o Senhor glorificado compensa o sacrifício de carregá-Lo. E mais: nunca ouvi dizer de alguém que tenha servido ao Senhor de todo coração e tenha ficado sem recompensa.
Estamos juntos!
Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com
Missionária da Comunidade Canção
Nova, em Fátima, Portugal. Trabalha na Rádio CN FM
103.7
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